Por que fazer Terapia? Como a Psicanálise pode ajudar a melhorar a saúde mental?
Vou responder essa pergunta de maneira bem simplificada: a psicanálise é um espaço de escuta onde abrimos passagem para que conteúdos psíquicos importantes possam se apresentar e assim ampliar o entendimento sobre quem somos, quais nossos desafios, dores, traumas.
Falamos sobre as angústias da nossa própria vida, e estuda las acaba por gerar um olhar estruturado e sistêmico em relação aos acontecimentos de repetição que tanto nos incomodam, trazendo transformações definitivas.
O objetivo é claro: que o analisando possa rever e compreender pontos importantes sobre si, sempre delegando a si mesmo a responsabilidade por sua existência.
Essa é uma boa pergunta: são três os pilares principais que representam a formação de um analista: estudos teóricos, análise pessoal e supervisão da sua prática clínica. Isso significa que o analista da psicanálise não apenas estudou a teoria, mas também passou por um processo de autoconhecimento, de investigação de suas dores, traumas, conteúdos inconscientes.
Trata se de um processo inevitavelmente profundo, demorado e transformador. Você estará se cuidando com alguém que ao investigar suas angústias, percorreu um caminho de visita ao seu interior e consequentemente ampliou sua própria consciência. Este processo é continuo; nós analistas estamos sempre a estudar e buscar ainda mais respostas aos temas existenciais.
Eu acredito que uma boa análise é construída a partir da interação entre terapeuta/cliente.
Uma dica: as relações produtivas nos afetam, nos causam emoções, sensações, incômodos.
Todos nós estamos aptos a perceber as escolhas que fazemos.
Todos nós podemos nos abrir para construir relações de confiança.
Na análise não é diferente, as melhores colheitas virão com o amadurecimento/aprofundamento entre analista e analisando.
O analista exerce um papel fundamental de alicerce para que o analisando possa adentrar instâncias mais profundas de sua própria psique.
Existem diferenças consideráveis entre a psicanálise e outros tipos de terapia.
A psicanálise se configura como uma linha de investigação dos fenômenos psíquicos, que é aplicada a partir de alguns princípios específicos, a partir da definição de seu próprio criador, o austríaco Sigmund Freud, médico neurologista.
Ele defendeu que o psicanalista é formado a partir do seu próprio processo de elaboração, transformação e ampliação do entendimento de suas questões psíquico-emocionais.
Também deixou claro que esse processo é contínuo, necessita de muito estudo e acompanhamento, e não depende de uma formação acadêmica específica: uma pessoa pode ter se formado em uma determinada carreira e não ter acessado seus conteúdos inconscientes, enquanto outra, estudante de outra carreira, pode ter estreita afinidade com a compreensão do processo psicanalítico; foi assim que ele apresentou a psicanálise para o mundo.
A psicanálise foi fundada em 1890. E sim, Freud demorou anos para começar a obter reconhecimento sobre sua prática.
No entanto essa prática se tornou revolucionária e atraiu muitos outros pesquisadores que geraram diversas linhas de trabalho dentro da psicanálise.
Essas linhas possuem linguagens diferentes, mas todas são focadas na transformação do conteúdo inconsciente que é onde se encontra a fonte de nossas angústias.
Carl Gustav Jung, suíço, médico psiquiatra, que inicialmente era parceiro de Freud, em determinado momento, encontra uma divergência de pensamento que gera o rompimento entre os dois; e para diferenciar o seu trabalho ao de Freud, acaba por optar em fundar em 1911 a Psicologia Analítica, que não deixa de ser uma linha da psicanálise, porém ramificada de Freud e não “abaixo” da estrutura de pensamento dele, como as outras que apresentaremos em esquema em breve.
Importante deixar claro que todas as linhas são importantíssimas pois contemplam diferentes afinidades humanas: muitas vezes a linguagem lacaniana poderá gerar impacto maior em um cliente em relação a linguagem freudiana e assim por diante…
Já a psicologia convencional, nasceu a partir de estudos feitos por médicos alemães, mais ou menos na mesma época que nascia a psicanálise.
O objetivo deles era estudar e encontrar ferramentas para lidar melhor com os desgastes emocionais e não contempla necessariamente a investigação do inconsciente. Também tem muitas vertentes e é uma prática muito benéfica aos seus clientes se bem aplicada.
Aos poucos explicaremos mais sobre esse extenso tema aqui em nosso site/blog.
Não, seu terapeuta pode ser qualquer analista.
Defendo que a análise é uma ferramenta que trás a possibilidade de perceber e transformar padrões de pensamentos que nos afetam consideravelmente no decorrer da vida.
Na sociedade também encontramos conceitos muitas vezes obsoletos, ou disfuncionais ante ao movimento que gera ampliação de consciência.
Desse modo, podemos supor que algumas pessoas teoricamente podem sentir se mais confortáveis e menos reprimidas, ao escolher um analista que não as conheça.
Mas objetivamente não é um problema caso seu terapeuta seja alguém conhecido, pois há uma estrutura psicanalítica em curso que é soberana e regula as descobertas no processo terapêutico.
Inclusive estudando a história da psicanálise notamos que dentro de uma família ocorreram experiências psicanalíticas interessantes, como a vivida entre Freud e sua filha Anna Freud que foi analisada pelo pai.
Por incrível que pareça ainda hoje existe muito sofrimento relacionado a esta pergunta: ainda é comum nas famílias brasileiras o preconceito velado em relação a esse tema.
Muitas pessoas vivem anos e anos em sofrimento (sem necessariamente ser alguém com transtornos mentais) e não conseguem pedir apoio terapêutico por conta do medo de serem rotulados como alguém gravemente doente, com prejuízos de sanidade.
Pouco se fala e pouco e sabe sobre a realidade desse tema.
Importante abrirmos espaço para ampliar a compreensão de que o processo terapêutico é um grande facilitador de bem estar e evolução.
Esclarecer as pessoas sobre quanto sofrimento acaba sendo gerado quando demoramos a procurar ajuda: ficar ruminando nossas questões pessoais sozinhos é fonte de grande desgaste.
Sem esclarecimentos ficamos presos ao inconsciente e geramos inúmeras situações de repetições em nossas vidas.
A escolha de obter apoio e o simples fato de perceber a si próprio no processo clínico é fonte de muita resolução e elaboração de questões e problemas.
Duvide de sentenças como: vai fazer terapia? Isso é para loucos, doentes, sempre soube que você era louco (a).
Procure ajuda e não dê ouvidos a comentários preconceituosos.
Muito importante ressaltar que mesmo em quadros de desequilíbrios psicológicos mais agudos, nunca devemos sentir medo ou julgar a situação como irreversível.
Fazer terapia é a chave para um caminho de vida esclarecido, funcional e próspero.
O analista é alguém que passou por um processo extenso e profundo de autoconhecimento, onde aprendeu a se diferenciar do outro, construiu sua identidade de forma segura, a ponto de não se afetar com escolhas e posições de quem está fora de si. E no processo terapêutico a missão é facilitar que o analisando também visite seu interior e construa sua individuação de modo autônomo, livre de influências externas.
Existe um processo sistêmico, baseado em mecanismos aos quais nossa mente racional não tem capacidade para controlar as engrenagens, que aproxima as pessoas para que trocas (que são sempre favoráveis a nossa evolução) aconteçam.
Portanto é perfeitamente possível e até saudável empreender análise clínica e qualquer outro tipo de relação com pessoas de grupos e credos diferentes dos nossos.
Desde o início do processo terapêutico, em qualquer linha de trabalho, já é possível usufruir de benefícios que geram transformações.
Fazer o movimento contínuo e ordenado de falar sobre nossas questões internas gera instantaneamente ganhos conscienciais.
Durante todo processo a tendência é que cada vez mais mudanças ocorram, sempre gerando estrutura, confiança e fortalecimento para o analisando.
Mas o seu empenho será fundamental no processo: costumo dizer que o sucesso de uma terapia depende diretamente da capacidade que o cliente tem de duvidar das suas certezas.
Na minha prática clínica não há nenhuma restrição quanto a esse tema.
A explicação é bem simples: o “outro”, tudo aquilo que está fora de você trata se de uma representação psíquica em relação a forma como essa pessoa se apresenta na sua consciência.
Esse “outro” para ele mesmo e para qualquer outra pessoa significa muitas outras coisas como por exemplo a visão de uma filha sobre seu pai sempre será muito diferente em relação a visão do chefe desse pai…
Além disso, minha atuação como analista não está focada em construir esteriótipos que rotulem uma pessoa baseada em opiniões de pessoa A ou B.
A análise se dá a partir da autopercepção de si mesmo, que é construída por você mesmo e todas as informações que precisamos estão contidas na própria consulta.
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